Favela Cria: evento aborda inovação social e arte urbana nas periferias

 Favela Cria: evento aborda inovação social e arte urbana nas periferias

Painel Arte urbana e empreendedorismo da rua para o mundoFoto: Léu Britto

Foto: Léu Britto

Evento segue até sábado (17) em Paraisópolis

Na manhã desta sexta-feira (16), o Pavilhão Social do G10 Favelas recebeu as atividades do segundo dia de Favela Cria, evento gratuito de comunicação promovido pelo Grupo Cria Brasil. A programação do dia foi iniciada com o painel “Design thinking para inovação social nas periferias” com a participação de Arthur Bezerra, administrador com experiência em gestão estratégica, inovação e empreendedorismo; Flávia Rodrigues, presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis e da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis e Conselheira do Fluxo sem Tabu e Pedro Marchi, sócio do Knowledge Exchange Session (KES) e empreendedor serial. 

Design thinking é um método de desenvolvimento de produtos e soluções a partir da identificação de necessidades e problemas enfrentados pelas pessoas. Mediando o painel, Arthur Bezerra falou sobre como algumas iniciativas presentes em Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, surgiram a partir da falta de determinados serviços. O G10 Bank, banco digital voltado a pessoas das periferias, foi um dos exemplos mencionados. 

Pedro Marchi destacou que vivemos um momento de aprendizado contínuo e que o conhecimento e a educação não estão mais centralizados. A tecnologia impulsionou que a busca por informações esteja a um clique de distância, o que possibilita um aprendizado contínuo. Ressaltou que a comunidade tem muito o que ensinar e que é necessário que as empresas percebam a potência que existe dentro desses territórios com a presença de pessoas que consomem, trabalham e empreendem. “Criatividade impulsiona o acesso, rompe a barreira e gera recurso”, diz.

Flávia destacou como as iniciativas presentes em Paraisópolis contribuem para a organização e o bem-estar dos moradores da comunidade. Falou sobre o Fluxo sem Tabu, organização que distribui itens de higiene menstrual para pessoas em situação de vulnerabilidade e promove educação sobre a menstruação. A presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis refletiu sobre como a dignidade menstrual ainda permanece sendo um tabu para algumas pessoas e como deve ser mais discutido.

O segundo painel foi sobre “Arte urbana e empreendedorismo da rua para o mundo” e teve a participação de Dicesar Love, artista plástico e muralista; Vanessa Ferreira, artista criadora do Preta Ilustra e Zezão, artista plástico e grafiteiro. 

Os artistas periféricos compartilharam suas histórias de vida e desafios que enfrentaram para trabalhar com arte. Dicesar começou fazendo pichações em muros na zona sul de São Paulo, depois começou a grafitar e desde então vem explorando sua arte de diferentes formas. Fez pinturas em portões de aço, murais e paredes, pintou telas, dividiu trabalhos como muralista com Eduardo Kobra. O artista passou por altos e baixos na vida pessoal e profissional e deixou uma mensagem às pessoas interessadas em viver de arte. “Tem que saber quem você é e não achar que sabe” e complementa reforçando a necessidade de tentar extrair o máximo de aprendizado das experiências, positivas e negativas, no decorrer da vida. 

Vanessa é formada em publicidade e durante anos conciliou o emprego formal com o desejo de trabalhar com arte. Ela conta que não via exemplos de artistas pretos, vindos das periferias que conseguiam sobreviver a partir de seu trabalho artístico. A artista reforça que pensar em diversidade e em políticas públicas relacionadas a isso é essencial. No entanto, é preciso “sair do pensamento e transformar em ações que impactem a vida das pessoas pretas”, reflete. 

Zezão iniciou sua carreira no grafite influenciado por diversos elementos do movimento hip-hop. Compartilhou que já chegou a ser detido duas vezes pela polícia enquanto grafitava e sempre teve a preocupação em fazer uma arte voltada à classe a qual pertencia. Por meio de sua arte sempre buscou ressignificar materiais encontrados no lixo e atraiu a atenção das pessoas para paisagens urbanas até então despercebidas ao grafitar vãos debaixos de viadutos, casas abandonadas, galerias de águas pluviais e mais. Trabalhando com arte desde a década de 90, Zezão reconhece que houve avanços no mercado mas que, infelizmente, ele continua sendo difícil de atuar mesmo com tantos anos de carreira. A principal reclamação é sobre os baixos valores direcionados ao pagamento dos artistas. No entanto, ele aconselha que os artistas não desistam e que permaneçam mesmo diante das dificuldades. “Manter-se trabalhando com arte é resistência”, afirma. 

As atividades da manhã foram encerradas com a apresentação de Zé Danilo Guerra sobre Voluntariado e Comunicação. Morador de Paraisópolis, ele compartilhou que seu primeiro contato com a fotografia foi através de um projeto social. Atualmente, ele é integrante da equipe de Redes e Comunidades do Atados, plataforma que conecta pessoas voluntárias a causas sociais. Guerra diz que a comunicação é uma área que sempre requer voluntários e é de extrema importância para auxiliar que as organizações sociais consigam transmitir sua mensagem a mais pessoas. No site do Atados é possível conferir oportunidades de trabalho. 

Favela Cria – ​​Olhares e vivências das periferias, evento de comunicação promovido pelo Grupo Cria Brasil, segue até sábado (17), das 9h às 17h, no Pavilhão Social do G10 Favelas, localizado na rua Itamotinga, 100, Paraisópolis, zona sul de São Paulo. 

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Jornalista, repórter do Espaço do Povo e correspondente local de Osasco, na Grande São Paulo, na Agência Mural de Jornalismo das Periferias.

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