Máquinas empáticas (ou não?)
O assunto do momento é a IA (Inteligência Artificial). Por um lado, há o deslumbramento com um serviço digital que, em poucos segundos, responde dúvidas, elabora textos, desenha o que o internauta solicitar etc. Por exemplo: perguntei ao ChatGPT o que é inteligência artificial, e ele prontamente respondeu: “é um campo da ciência da computação que busca desenvolver sistemas e tecnologias capazes de realizar tarefas que, normalmente, exigiriam inteligência humana para serem realizadas. Esses sistemas são projetados para aprender, raciocinar e tomar decisões com base em dados e algoritmos”. Em tempo: como esclarecem os nerds, IA existe há tempos e é base de muitos sistemas e plataformas tecnológicas. Recente é seu uso por pessoas comuns, fora dos ambientes especializados em tecnologia (em serviços como ChatGPT, Bing, YouChat etc).
Por outro lado, manifestou-se o temor pelos riscos que essa inteligência desconhecida, que aprende sozinha, pode representar. Primeiro, em nível mais prático e imediato, a preocupação é com os empregos que deixarão de existir, desde os do próprio mundo da tecnologia (analistas que se incumbem de códigos mais simples, por exemplo, devem se tornar dispensáveis) até designers (há chats especializados em produzir, em segundos, imagens de excelente qualidade), e mesmo as profissões ligadas à escrita. Traduções, por exemplo, ficam perfeitas, dizem os que usaram. E já há livros de ficção escritos por IA, bastante razoáveis, conforme quem avaliou. Para textos factuais, os erros desses chats ainda são muito frequentes, o que impede o uso imediato para os textos jornalísticos, mas melhorias devem ser questão de tempo, em versões mais avançadas desses sistemas.
A principal preocupação, no entanto, é mais profunda: refere-se à dominação que a IA pode exercer sobre a cultura humana, alterando-a e, eventualmente, destruindo-a. Não à toa, renomadas personalidades globais, como Elon Musk (fundador da Tesla), Steve Wozniak (cofundador da Apple) e o historiador-filósofo-escritor Yurval Harari (autor de “Sapiens”), entre outros, assinaram carta divulgada globalmente, onde defendem pausa por algum tempo no desenvolvimento da IA, por acreditarem que “a IA avançada pode representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planejada e gerenciada com cuidado e recursos proporcionais”. Uma ilusão imaginar que as grandes empresas de tecnologia concordariam com a proposta…
Assustador! Expus o assunto aos meus netos de oito e seis anos, em linguagem adaptada à idade (sem muito esforço, já que eu mesma sou leiga). Falava eu sobre o perigo da interferência da IA para a humanidade quando o mais velho, prático como sempre, apontou a solução: “basta tirar a máquina da tomada!”. Boa resposta, mas dobrei o desafio: “se a IA é tão capaz, talvez consiga buscar sozinha outras fontes de energia…”. Os meninos ficaram de pensar para solucionar o assunto. Por enquanto, nada (rsrs).
Bem, para fazer a minha parte, só “treino” a IA em matérias do bem ao solicitar respostas. Assim, quem sabe ela não tenha maus pensamentos… Dia desses, por exemplo, solicitei ao ChatGPT um soneto contendo o tema empatia. Achei razoável o resultado, e compartilho aqui:
“Empatia é a arte de se doar
E compreender a dor alheia
É saber escutar e enxergar
O que o outro sente e deseja
É sentir junto, sem julgar
E estender a mão com amor
É se colocar no lugar
De quem precisa de calor
Empatia é o elo que une
E acalma o coração aflito
É o gesto que reconforta e acolhe
É o ato mais nobre e bonito
Que transforma e nos faz crescer
E nos torna mais humanos ao viver.”
É mãe, avó e executiva do Grupo Folha e do Grupo UOL.