Favela da zona sul sonha em ser o bairro mais colorido de São Paulo até 2030

Escadão decorado em homenagem a Tia Maria, figura célebre do Jardim Ibirapuera, inaugurado em outubro de 2024, na rua Salgueiro do Campo - Rafaela Araújo/Folhapress
Projeto tem pintado casas e feito a revitalização de escadarias no Jardim Ibirapuera
Localizada na zona sul de São Paulo, a comunidade do Jardim Ibirapuera aos poucos tem trocado o cinza e o laranja dos tijolos, cores tradicionais nas favelas do Brasil, por grafites, mosaicos e murais.
A ação faz parte de um projeto que pretende transformar o local, onde moram 41 mil pessoas, na favela mais colorida da capital paulista até 2030.
Desde o lançamento, em outubro do ano passado, 40 casas já foram pintadas e três escadarias, revitalizadas —a ideia é fazer isso em todas as 20 que passam pela comunidade, que tem cerca de 14 mil casas.
“[As escadarias] São locais muito movimentados, com pessoas indo e vindo da escola ou trabalho. Então, através dos escadões, a gente identificou que poderíamos ter uma galeria a céu aberto dentro da quebrada“, afirma Eduardo Duetho, produtor do projeto, chamado Escadão Galeria.
Ele explica que as mudanças estéticas fazem parte de um movimento que busca transformar o Jardim Ibirapuera também em outros aspectos. “Quando a gente fala de um bairro futuro, a gente tem que levar em consideração a saúde, a educação, o trabalho, porque, no final das contas, os escadões são apenas as passagens. As pessoas são o importante nesse processo.“
O Escadão Galeria também já realizou a pintura de guias e de comércios e a construção de murais e de painéis de grafite. O objetivo é transformar mais quatro escadarias até o fim do ano.
O plano inclui que esses espaços sejam usados ainda para homenagear pessoas importantes da comunidade ou artistas e intelectuais negros ou que tenham ligação com a periferia. Até agora, já receberam essa homenagem nomes como Sérgio Vaz, Sueli Carneiro e Conceição Evaristo.
A ideia para o projeto surgiu em maio de 2023, quando um grupo realizou um mutirão comunitário para homenagear o músico Seu Escurinho do Acordeon, morador do bairro. No ano seguinte, foi a fez de celebrar Maria Eterna dos Reis, a Dona Maria, que fundou a primeira escola comunitária do bairro e que ajudou a alfabetizar muitos moradores.Ver que a comunidade se juntou para construir essa melhoria que a gente almeja para o nosso bairro é a parte mais sensacional do projetoRonaldo Bozzi
que ministra as aulas na oficina
Atualmente, o Escadão Galeria conta com uma oficina de mosaicos. Nela, os moradores aprendem a fazer os desenhos que vão depois decorar os espaços. “Todo esse projeto que temos para mudança no bairro é bem ambicioso e sem a participação da comunidade isso não seria possível“, dizo educador e artesão Ronaldo Bozzi, que ministra as aulas.
Ele destaca que são os próprios moradores, por meio de mutirões, que fazer as obras. O próprio Ronaldo vive no bairro há 40 anos. “Ver que a comunidade se juntou para construir essa melhoria que a gente almeja para o nosso bairro é a parte mais sensacional do projeto“.
Quando veem os trechos coloridos após os mutirões, muitas pessoas agradecem, diz Débora Oliveira, aluna na oficina de mosaicos e moradora do Jardim Ibirapuera há mais de 50 anos. “Eu me sinto importante, me sinto feliz e apaixonada, eu amo estar aqui”, diz ela.
“Ver que a comunidade se juntou para construir essa melhoria que a gente almeja para o nosso bairro é a parte mais sensacional do projeto”. Ronaldo Bozzi, que ministra as aulas na oficina
Os responsáveis pelo projeto dizem que a maioria dos moradores aprovou a implementação dos espaços mais coloridos. Segundo eles, a escolha da paleta foi feita para dialogar com as raízes culturais dos moradores —a maioria é negra e/ou de origem nordestina.
Gilson José, conhecido como Buiu, comerciante local, que mora no Jardim Ibirapuera há 45 anos e teve sua casa pintada pelo projeto, afirma que as mudanças podem inclusive melhorar a economia local. “Para a visibilidade do bairro é ótimo, acredito que pode trazer até mais investimentos para o bairro e gerar até mais renda para as pessoas”.
*Reportagem publicada em parceria com o jornal Folha de S.Paulo.
Repórter do Espaço do Povo, é cria do Jardim Ângela, formado em jornalismo e tem vivência em redação e assessoria de imprensa.