Por que a favela ainda não venceu?

 Por que a favela ainda não venceu?

Crédito: Anderson Jorge / Cria Brasil

Celebrado em 4 de novembro, o Dia da Favela marca a resistência dos moradores que vivem nas comunidades brasileiras.

Há 122 anos a palavra “favela” foi usada em um documento pela primeira vez, para identificar uma comunidade em vulnerabilidade. Consegue imaginar de onde o nome surgiu? Ele foi usado pela primeira vez pelo Dr. Enéas Galvão, delegado da 10ª Circunscrição e chefe da Polícia do Rio de Janeiro, em um documento datado em 4 de novembro de 1900, que descrevia um local onde havia uma ocupação de trabalhadores vindos do Nordeste para o Rio de Janeiro com promessa de moradia. O local foi chamado de “Morro da Favela”, em referência aos arbustos de uma planta chamada “faveleira”, espécie muito resistente e bastante conhecida no Nordeste. Anos depois, o morro ganhou o nome de Providência e se tornou a primeira favela do Brasil. A data do documento passou a ser considerada o “Dia da Favela”, se popularizando primeiro no Rio de Janeiro e alcançando todos os cantos do país.

No dicionário favela significa “área urbana caracterizada por moradias precárias e infraestrutura de urbanização geralmente deficitária”. Quem vive nas favelas do Brasil, sabe que a “falta” é o que identifica as comunidades. É verdade que a ausência de políticas públicas e a violação de direitos humanos está presente na rotina da população mais pobre. Mas não é só disso que a favela é feito, pelo contrário. A cooperação e a resistência poderiam, facilmente, serem sinônimos da palavra “favela”. A favela ainda não venceu, mas o caminho da vitória está sendo construída coletivamente, com o trabalho de muitas pessoas, como o dos líderes do G10 Favelas que fazem a diferença com projetos sociais que transformam comunidades pelo Brasil.

“As favelas ainda não venceram, porque elas são vistas apenas como problemas, sendo definidas por aquilo que falta e não por aquilo que possuem: as pessoas, a sua arte, sua cultura e sua vida econômica que, apesar de estar em bolsões de pobreza, acumulada bilhões de reais todos os anos. Ela não venceu ainda, porque ela é vista como marginal, como violenta e ‘probrinha’. A medida que criamos um novo olhar, traz investimento e oportunidades, nós transformamos as favelas em potências.”

Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas

“Sim a favela venceu, sempre venceu. Agora em aspectos sócio político, econômico e fruto dos cerceamentos já estruturais, a favela padeceu e segue padecendo, destes que são programas das políticas públicas que não é uma derrota. Logo, não é um ‘não vencimento’ é cerceamento de direitos vindo das cátedras primárias do regime democrático. Ao fim e ao cabo somo vencedores por muitos aspectos e furtados nós aspectos em políticas públicas.”

Reginaldo Lima, representante G10 Favelas no Rio de Janeiro

“Porque a grande maioria das pessoas foram condicionadas, foram treinadas ao derrotismo, a ficarem onde estão, a acharem que ser pobre e coitadas é bom, a viverem somente da doação. E o outro aspecto é o poder público, pois os políticos não querem que as pessoas saiam desse derrotismo, eles não querem que a favela vença. Essa é a grande realidade. Porque daí parece que eles não vão ter mais o que prometer.” 

Fausto Filho, representante G10 Favelas em Pernambuco

“A favela ainda não venceu, porque o povo ainda não se conscientizou da força que tem. Temos um nível de envolvimento político e de protagonismo que não existia antes, independente dos recursos financeiros. Hoje já sabemos onde queremos chegar e como chegar. Vencemos porque conquistamos a nós mesmo.” 

Edilamar Correia, representante G10 Favelas Distrito Federal

“Para mim a favela ainda não venceu por três problemas: discriminação, desinformação e falta de lideranças comprometidas. Precisamos de lideranças comprometidas com o empreendedorismo ‘de dentro pra fora’ que fortaleça os empreendedores sociais e os torne capazes de dialogar com as políticas públicas e/ou de trazerem soluções no âmbito da tecnologia, inovação, infraestrutura e saneamento básico ou até mesmo conseguirem aporte financeiro para bons projetos que tenham sinergia e façam sentido com o povo étnico que vive nas periferias.”

Renato Rosas, representante G10 Favelas no Pará

“A favela não venceu, mas ela está vencendo. E se dependesse tão somente dos movimentos comunitários e de iniciativas como a do G10 Favelas já teria vencido. Mas sabemos que tem outras questões que precisam ser ponderadas e precisamos colocar na agenda a importância da participação do poder público nesse processo de mudança das comunidades periféricas. Vale ressaltar a questão do urbanismo social, levar serviços de primeira qualidade para as comunidades, aí você vai estar fazendo com que a favela continua avançando e possa vencer.”

Jefferson Lucio, representante G10 Favelas no Rio Grande do Norte

“Acho que primeiro a gente precisa entender o momento que o país passa, a falta de políticas públicas, de incentivo, de fomento. Precisa haver uma consciência de tudo isso que nós já fazemos na favela, para que se torne políticas públicas e, dessa forma, melhore a vida das pessoas.”

Kenedy Alessandro, representante G10 Favelas em Minas Gerais

“A favela ainda não venceu porque ainda não perceberam seu potencial político-social.  Enquanto houver lideranças divididas nada irá andar. Por mais que economicamente sejamos potências, devemos notar que se não colocarmos em prática o que pensamos e queremos ainda veremos por muito tempo bolsões de misérias na casa do vizinho. Para que todos possam usufruir de uma boa vida, temos que planejar ações efetivas que realmente mudará para a melhoria da qualidade de vida do nosso povo.”

José Marcelo da Silva, representante G10 Favelas em Heliópolis (SP)

Digiqole Ad
+ posts

Jornalista com especialização em Políticas Públicas e Projetos Sociais. É editora do jornal Espaço do Povo, colaboradora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias e host do podcast Manda Notícias.

Relacionados

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *