Dignidade menstrual: Um direito de todos os corpos que menstruam

 Dignidade menstrual: Um direito de todos os corpos que menstruam

Foto: Karolina-Grabowska

Conheça projetos sociais que lutam por garantir esse direito além de desenvolverem conteúdos que possibilitam a quebra de tabus em torno da menstruação 

 

Menstruação. Essa palavra ainda causa estranhamento em pleno século XXI. Quem menstrua aprende desde “mocinha” que não pode sentar com as pernas abertas, que não se deve falar de menstruação em público, muito menos mostrar o absorvente. Ensinam que o sangue que sai, é sujo e impuro. Isso gera nas pessoas que menstruam (mulheres cisgênero, homens transgênero, pessoas transmasculinas, não binárias e intersexo) traumas e as distanciam de conhecimento do próprio corpo. E, por se tratar de um assunto que não deve ser falado, muitas pessoas não sabem que o absorvente que para algumas é apenas mais um item higiênico, para outras é artigo de luxo.

De acordo com o relatório “Pobreza Menstrual no Brasil”, estudo realizado pela Unicef (Fundos da Nações Unidas para a Infância) em 2021, mais de 700 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em suas casas. Além disso, mais de 4 milhões não têm acesso a itens básicos de cuidados menstruais, ou seja, milhares de pessoas vivem com a ausência de condições sanitárias mínimas.

O que é pobreza menstrual? 

É a falta de recursos básicos, como absorventes, coletores menstruais, sabonetes, água potável e papal higiênico. A ausência de banheiros seguros, saneamento básico, coleta de lixo e também a falta de conhecimento (tabus e preconceitos). Ou seja, a pobreza menstrual é caracterizada pela desigualdade social, e isso causa muitos impactos, como psicológicos, profissionais, e na saúde.

Menstruação em período escolar

O estudo “Impacto da Pobreza Menstrual no Brasil”, realizado por Always e Toluna, mostra que 1 a cada 4 estudantes já deixou de ir à aula por não ter absorventes. O levantamento mostra ainda que, durante o ano letivo, as alunas perdem cerca de 45 dias de aulas por falta de condições durante o período menstrual. Vale destacar que pessoas que menstruam passam a maior parte da vida escolar menstruando, considerando que a idade média da primeira menstruação das brasileiras é aos 13 anos, isso de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013. 

Além disso, homens trans que menstruam também passam por uma série de situações que impactam a vida com a pobreza menstrual, como diz o ginecologista Jadson Lener

“Muitos homens trans não conseguem completar a transição e continuam com o útero,  menstruam mensalmente e alguns acabam tendo a disforia de gênero, (condição caracterizada pela desconexão entre o sexo com que o indivíduo nasce e a sua identidade de gênero.).” disse 

Corpos que menstruam nos presídios 

Segundo a Pesquisa Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN), 29,4% de mulheres que estão em presídios, não possuem condições adequadas na saúde individual e coletiva das presidiárias.

Políticas públicas é necessário para o combate à pobreza menstrual, mas mesmo diante dessas falhas, há alguns projetos desenvolvidos por mulheres para levar dignidade aos corpos que menstruam. Conheça alguns deles:

Projeto Luna – Criado em 2020 por Victória Dezembro, quando foi despertada pela causa a partir do momento em que leu um artigo sobre o tema que falava sobre a situação desumana das presidiárias brasileiras com falta de absorventes que improvisam com miolo de pão. A ONG conta com apoio de parceiros focando em doação de kits de saúde menstrual a pessoas em situação de vulnerabilidade, visando educar e gerar conscientização sobe os impactos sociais e econômicos causados pela pobreza menstrual. “além de combatermos a pobreza menstrual, também trabalhamos na quebra de tabus sobre algo que é fisiológico e natural, esse ano estamos desenvolvendo uma cartilha educativa, para assim, normalizamos a menstruação.” explica Victoria Dezembro do Projeto Luna.

Fluxo sem Tabu – Fundado também em 2020 por um estudante que na época tinha apenas 16 anos, chamada Luana Escamilla. O projeto surgiu depois que Luana assistiu ao documentário “Absorvendo o Tabu”, que conta a pobreza menstrual em um vilarejo rural na Índia. Ela ficou impactada e resolveu pesquisar o tema e descobriu que no Brasil a pobreza menstrual atinge milhares de corpos. Desde sua fundação, a ONG já impactou mais de 23 mil pessoas pelo país. 

“O fluxo sem tabu tem dois pilares muito importantes, um que é a parte de realmente fornecer os kits, (os absorventes) e o segundo pilar que a parte da educação, a gente não entrega o kit vai embora a gente faz questão de fazer palestras e oficinas”, disse Luana, fundadora do Fluxo sem Tabu.

Girl Up – É um movimento global associado à Fundação das Nações Unidas que treina e conecta meninas e mulheres para que sejam líderes e ativistas pela igualdade de gênero. Como parte da Girl Up, a Girl Up Brasil já apoiou cerca de 150 iniciativas de meninas em mais de 20 estados do Brasil. Entre as iniciativas estão os milhares de projetos de lei sobre dignidade menstrual. 

Essa reportagem foi publicada na versão impressa do jornal Espaço do Povo no mês de março (edição 92).

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Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Repórter do Espaço do Povo e Correspondente local do Grajaú (SP) na Agência Mural de Jornalismo das Periferias.

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