Mobilidade urbana em SP: Moradores periféricos lidam com 4 horas diárias de deslocamento
Segundo pesquisa “Viver em SP: Mobilidade Urbana”, realizada pela Rede Nossa São Paulo e o Instituto Cidades Sustentáveis em setembro deste ano, o tempo médio de deslocamento aumentou 7 minutos em 2023
São Paulo, conhecida como a cidade que não para, a cidade que não dorme, porque uma grande parcela da população realmente não para e mal dorme. Muitos moradores dos extremos da cidade perdem, em média, 4 horas por dia dentro de transportes públicos. Essa é a realidade de Rafael Batista, 25 anos, residente do bairro Jardim Almeida, na região de Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo. “Eu saio sempre duas horas antes do meu horário de trabalho, para garantir que chego a tempo, devido ao trânsito e à demora dos ônibus e trens.”
Os moradores dos distritos que enfrentam os maiores tempo de deslocamento, conforme o Mapa da Desigualdade de 2023 lançado em novembro, têm os seguintes tempos médios (em minutos) de deslocamento por transporte público no horário de pico da manhã:
- Marsilac 73;
- Cidade Tiradentes 68;
- Parelheiros 64;
- Perus 64;
- Itaim Paulista 63;
- Grajaú 62.
Vale ressaltar que o tempo de deslocamento por transporte público é obtido por meio da média ponderada do tempo de viagem dos usuários de cada distrito. Esse cálculo inclui o período desde a primeira utilização do Bilhete Único até o último desembarque, incluindo eventuais transferências. As viagens consideradas na pesquisa englobam deslocamentos realizados tanto por ônibus quanto por trem, contanto que o usuário tenha utilizado o Bilhete Único.
Quem mora no extremo da zona leste da cidade também enfrenta essa jornada, como é o caso do fotógrafo Rafael Felix, que mora no Itaim Paulista. Ele conta que, antes de começar a trabalhar como freelancer, demorava, em média, 1h30 a 2 horas, tanto na ida quanto na volta. “Não é diferente do tempo que gasto hoje, dependendo do lugar para o qual vou na cidade.”
Em comparação com a pesquisa “Viver em SP: Mobilidade Urbana“, realizada pela Rede Nossa São Paulo e o Instituto Cidades Sustentáveis em setembro deste ano, o tempo médio de deslocamento aumentou 7 minutos em 2023 em relação ao ano anterior. Em 2019, antes da pandemia do novo coronavírus, os residentes da capital paulista levavam 2h25 para se deslocar diariamente pela cidade.
Segundo a pesquisa, mais pessoas passaram a utilizar o ônibus como meio de transporte: os usuários deste modal aumentaram de 33% em 2022 para 41% em 2023. Os ônibus continuam sendo o principal meio de locomoção dos moradores da cidade de São Paulo, e a parcela de paulistanos que usam o transporte coletivo em geral também aumentou. Em 2022, eram 41%; em 2023, 57%. Já o uso de carros segue na direção oposta, caindo de 24% em 2022 para 19% em 2023. Na capital, os carros são o segundo meio de deslocamento mais utilizado.
Outra pesquisa divulgada em maio, “Mobilidade Urbana no Brasil: Marco Institucional e Propostas de Modernização”, relata que São Paulo tem o maior tempo médio de deslocamento do país. Além disso, para aqueles que dependem do transporte público, leva consideravelmente mais tempo para chegar ao destino.
De acordo com o estudo, para melhorar a mobilidade em São Paulo, a rede de metrô de alta capacidade deveria ser o dobro do tamanho atual, chegando a 250 km. Em relação aos corredores de ônibus, seria necessário implementar 60 km de Bus Rapid Transit (BRT). No contexto nacional, são necessários R$295 bilhões em investimentos em corredores de ônibus e metrôs para que a mobilidade atinja um padrão de qualidade semelhante ao da Cidade do México e Santiago, cidades referências em mobilidade em transporte público na América Latina.”
Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Repórter do Espaço do Povo e Correspondente local do Grajaú (SP) na Agência Mural de Jornalismo das Periferias.