Estudo revela que negros e periféricos são os mais afetados pela crise climática
Com o clima mais quente e chuvoso, pessoas que moram nas periferias tendem a sofrer mais com casos de dengue.
Estudo realizado pela Associação de Pesquisa Iyaleta, revela que as mudanças climáticas afetam mais a vida de pessoas negras e moradores de áreas periféricas das cidades. Bairros de periferia são geralmente mais populosos e possuem menos área verde e estão mais sujeitos a falta de energia e água. Todos esses fatores pioram a qualidade de vida destas pessoas, é o que afirma Diosmar Filho, referência no debate sobre racismo ambiental, ao site Agência Brasil.
“Nessas áreas, há menos infraestrutura e menos assistência à saúde, ao transporte, ao saneamento e à moradia. E tudo isso tem relação com a forma como vamos enfrentar os efeitos causados pelas mudanças climáticas, por exemplo, no momento das chuvas ou no aumento da temperatura com as ondas de calor”, afirma Diosmar.
O estudo revela que uma residência pequena, como de costume nas periferias, com teto baixo e sem grande circulação de ar, pode ser um complicador para a saúde das pessoas. Um exemplo dessa desigualdade é a cidade de Cuiabá, uma das cidades analisadas pela pesquisa, a capital do estado do Mato Grosso foi fortemente atingida pelas últimas ondas de calor, atingindo mais de 40 graus.
O clima mais quente e chuvoso também é propício para novos focos de dengue, 54,79% das mulheres negras foram diagnosticadas com dengue, enquanto apenas 14,85% das mulheres brancas tiveram o mesmo diagnóstico. Em Cuiabá, mulheres negras (79,38%) e homens negros (78,24%) possuem menos acesso ao saneamento básico em comparação a mulheres brancas (86,3%) e homens brancos (85,31%).
“Quando chega o verão, você começa ver as recomendações: ‘cuide do seu jardim, tire o vaso da planta, faça isso, faça aquilo’. Há uma propaganda nacional que parece que nós vamos resolver todo o problema da dengue desse jeito, sendo que, nas áreas periféricas, o acesso ao saneamento é desigual. E a falta de saneamento favorece a transmissão da doença”, conta Diosmar.
Repórter do Espaço do Povo, é cria do Jardim Ângela, formado em jornalismo e tem vivência em redação e assessoria de imprensa.