Cadê o pai? Como a ausência da figura paterna afeta a vida de uma criança

 Cadê o pai? Como a ausência da figura paterna afeta a vida de uma criança

Em 2022, 165.032 crianças não tiveram o registro do pai na certidão de nascimento 

Provavelmente você conhece alguém que não teve o pai presente. Por várias razões, inclusive por abandono. Pode ser um amigo, um vizinho ou você mesmo. No Brasil, todos os dias 452 crianças são registradas sem o nome do pai, de acordo com dados da Arpen (Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais) de 2022. 

É comum ver pais sem comprometimento com os filhos, deixando toda a responsabilidade com a mãe. Problema que, aparentemente, não assusta mais ninguém no Brasil. A cena de uma mãe solo lidando com os desafios de criar uma criança, não incomoda muito a nossa sociedade, mas a irresponsabilidade desses atos deve ser cobrada.

O morador de Paraisópolis e videomaker, Luis Maike (30), é pai de uma menina de 2 anos, e conta sobre a ausência do seu pai e como isso refletiu na sua vida: “A ausência dele, por muito tempo, refletiu em forma de ‘por quê?’. Primeira vez que o vi, eu tinha 12 anos, porém só fui conhecê-lo quando já tinha 17. Foram 17 aniversários sem ele. Então eu refletia: por que na escola os pais buscavam todo mundo, mas na minha vez era o meu avô, no lugar do meu pai?”. 

Maike e sua filha Alita Stella

Maike fala também sobre sua experiência enquanto padrasto de três jovens, do seu antigo relacionamento. “Eu pegava como se eu realmente fosse pai deles. Tudo que eu não tive, como atenção, amor, carinho e dedicação, eu tentei dar ao máximo. Mas, tentando procurar algo, porque eu nunca tive essa referência de como é ser pai, como ser afetivo. Mesmo assim, ao longo de dez anos, eu tentei traçar uma linha para eles, para que chegassem a me considerar como um pai. E hoje eles me consideram assim, isso é muito gratificante”, conta.

O número de crianças sem registro do pai na certidão de nascimento está crescendo no Brasil. Em 2020, 5,8% das crianças ficaram sem o nome do pai no documento, em 2021, 5,9%, já em 2022 esse número chegará a 6,6%. Até o mês de março deste ano, já são 6,8% de crianças registradas apenas com o nome da mãe, são 39.698 crianças, segundo o Arpen.

“A ausência desta figura paterna, pode impactar no desenvolvimento cognitivo, emocional, psicológico e escolar da criança, além de questões ligadas a inseguranças e sentimento de inferioridade”, diz a psicóloga Camila Nascimento. 

O abandono paterno é considerado uma questão “comum” no Brasil, quase naturalizado. Mesmo com todos os dados sobre os pais ausentes, ainda existem muitas perguntas sobre o tema. Até quando os homens não serão responsabilizados por suas atitudes? Ou pela ausência delas. Por que a nossa sociedade ainda tolera esse tipo de comportamento?

Uma das consequências desta atitude é o chamado “abandono afetivo”. Este termo é usado para tratar da ausência de afeto aos filhos, a falta de apoio emocional e convivência. São questões que impactam duramente a vida destas crianças e também das mães. 

Psicóloga
Camila Nascimento

“Da parte da mulher que fica com o filho, existe uma sobrecarga, além de apresentar os cuidados para com o filho, precisa muitas vezes ficar nesse lugar de pai. E isso é muito complexo, principalmente nesse momento que a gente vive, nessa sociedade machista”, completa Camila.

A nossa sociedade tem o dever de discutir como essas atitudes afetam emocionalmente nossas famílias. São histórias que se repetem e vão passando de geração em geração, avós, pais e filhos. Cabe a nós, enquanto sociedade, refletirmos sobre esse comportamento, e não considerar comum que crianças sejam abandonadas pelos pais. 

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Repórter do Espaço do Povo, é cria do Jardim Ângela, formado em jornalismo e tem vivência em redação e assessoria de imprensa.

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