Babás: quem cuida dos filhos delas, quando elas cuidam dos nossos filhos?

 Babás: quem cuida dos filhos delas, quando elas cuidam dos nossos filhos?

Lina Kivaka – Pexels

Conheça a rotina de algumas mães da periferia de São Paulo, que vivem esse dilema diariamente

Elas passam horas longe de casa. Antes de sair para mais um dia de trabalho, tentam ao máximo desfrutar o pouco tempo que tem com os filhos, nem que seja ao menos para dar um beijo, enquanto eles dormem. Assim é a rotina da maioria de mulheres que são mães e trabalham como babás: sair para cuidar da cria de outras. Mas, enquanto isso, quem cuida dos filhos delas?

Tamires Nascimento, 24, moradora de Taboão da Serra (SP), começou a trabalhar como babá há cinco meses, e conta que a parte mais difícil é ter que ficar longe dos filhos, “eu tenho muito afeto por crianças e o valor do salário ajuda muito, ainda mais que tenho dois filhos pequenos para criar, mas é difícil ficar muitas horas longe deles”.

Ela conta que além de cuidar das crianças, uma de três e outra de seis anos, ainda faz a comida e cuida da casa, mesmo tendo sido contratada apenas para a função de babá. 

Essa é a realidade de muitas, várias pessoas confundem as profissões, acham que babá é uma empregada doméstica ou uma cuidadora, mas a babá é uma profissional do cuidado. É ela quem acompanha de perto das necessidades relacionadas à saúde, alimentação, entretenimento e aprendizagem da criança. 

Brayan, de 1 ano e 8 meses, e Pietro, 7 anos, filhos de Tamires, passam a maior parte do tempo com sua tia, que recebe R$ 400  ao mês para ficar com as crianças, ou seja, ela trabalha de babá para pagar uma babá.

Mariana Pereira e seu filho – Foto: Luis Maique

O caso não é diferente para Mariana Pereira Duarte, 26, de Paraisópolis (SP), que também optou por trabalhar como babá para conseguir uma renda melhor. Mãe de Lorenzo, cinco anos, ela explica que o filho fica com a avó paterna. “Minha maior dificuldade é ter que ficar longe do meu filho quando tenho que viajar ou dormir fora”, diz. 

Já para Elisângela Conceição Amaral, 46, de Cidade Ademar (SP), a maior dificuldade tem sido comprovar experiência em carteira de trabalho. Mesmo sendo mãe de três filhos e tendo trabalhado como babá por mais de dez anos. “Hoje quero arrumar outro trabalho de babá, mas eles fazem questão de registro, sou técnica de enfermagem também, tenho toda uma bagagem mais a exigência está grande”, afirma. 

Ela relembra que quando os filhos mais velhos eram pequenos, ela contava muito com a ajuda da mãe, e o pouco tempo que tinha para ficar com eles, tentava compensar de alguma maneira. Hoje, a filha mais velha é quem cuida da irmã caçula de nove anos.

Quando surgiu a profissão?

As babás, ou seja, as profissionais responsáveis por cuidar das crianças de outras famílias, existem há muito tempo. No Brasil colonial elas eram conhecidas como “amas de leite”, era assim como ficaram conhecias as escravas que tinham filhos, e que alimentavam com o seu leite os bebês das famílias dos senhorios. 

Já nos séculos 19 e 20, surgem as governantas, mulheres que eram responsáveis por coordenar toda a casa, elas que designavam outros empregados para a educação das crianças.

Na década de 70 o mercado de trabalho começa a ganhar a presença de mulheres como designadora de profissões, que até então era comandada apenas por homens, sendo assim, mulheres que antes só trabalhavam em casa, começaram a precisar de mulheres para cuidar de seus filhos. Que perpetuam até os dias atuais.

Essa reportagem foi publicada na versão impressa do jornal Espaço do Povo no mês de março (edição 92).

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