Ninando
Em artigo na “Folha de S.Paulo”, a bióloga e neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Vanderbilt (EUA), discorreu sobre pesquisa com camundongos, mostrando que, assim como os humanos, eles também adormecem mais rápido se forem delicadamente acalentados.
Parece intuitivo. Sei lá a razão desse fato, mas não é à toa que, quando carregamos bebês, nossa tendência é imediatamente aconchegá-los e balançá-los de um lado para o outro.
Mas há sempre os sabidos de plantão a afirmar que isso é errado. Lembro-me de quando meu neto mais velho nasceu. Na maternidade, estava eu encantada com ele no colo, transbordando amor, quando a enfermeira entrou no quarto e, no cargo de caga-regras, disparou: “Não faça isso! É péssimo para o bebê!”
Aquela “dura” foi um balde de água fria. Mas, como avó que já tem idade para mandar às favas os palpites considerados bobagens, esperei a “chefa” sair e… voltei a balançar docemente minha paixãozinha. E para ser ainda mais rebelde, cantei baixinho pra ele (não desafinei, juro!). Cheguei a olhar ao redor para ver se havia câmeras instaladas vigiando avós que ninam bebês, mas ninguém mais me importunou.
Na casa dos meus pais, pelo que me lembro, um único berço serviu para todos os filhos. Era um que imitava cadeira de balanço, com duas ripas arredondadas como base. Ficava ao lado da cama dos meus pais, de forma que, quando o bebê chorava – e isso acontecia a noite toda –, minha mãe tentava acalmá-lo balançando a pequena cama. Fazia isso automaticamente, ainda dormindo ou bêbada de sono.
Raras vezes funcionava, e havia o risco de acidente quando os bebês já conseguiam se movimentar sozinhos. Uma vez, não me lembro com qual de nós, meus pais acordaram com um choro desesperado. Pois não é que o (ou a) pestinha tinha enfiado a cabeça entre duas grades da guarda do berço? Não havia como retirá-la. O único jeito foi serrar uma das grades. Isso no meio da noite…
O pior caso de confusão noturna foi o de um dos irmãos. Como teve um pequeno problema após o nascimento, recebeu ainda mais atenção e ficou pra lá de mimado. Com isso, quando já tinha “autonomia” para se movimentar, para que meus pais conseguissem dormir um pouco, era montado no quarto um “cenário de festa”, até com comes e bebes (adequados à idade). Enquanto ele cantava parabéns para si próprio, meus pais, um olho no peixe outro no gato, cochilavam.
Eles ainda não tinham as modernas técnicas soníferas: ligar um secador de cabelos perto de um bebê é tiro e queda. A explicação é de que o barulho se assemelha ao que o feto ouve na barriga da mãe. E para quem não quer andar com um secador de cabelos na bolsa, há algo mais moderno: o app de barulhos para ninar bebês. Santo progresso!
É mãe, avó e executiva do Grupo Folha e do Grupo UOL.