Eu não sou masculina! termos preconceituosos que só reforçam a lesbomisoginia

 Eu não sou masculina! termos preconceituosos que só reforçam a lesbomisoginia

Crédito: Divulgação

Muita gente acredita que nossas características estéticas e comportamentais nada têm a ver com nossa sexualidade, mas essa ideia está completamente errada. É fato que existem dois tipos de lésbicas: aquelas que são femininas e as que não são. Diversas nomenclaturas foram criadas de forma pejorativa para classificar lésbicas desfeminilizadas, além disso, devido à falta de visibilidade, nós ainda lutamos diariamente para que esses nomes sejam substituídos por termos que não sejam violentos com a nossa existência. Muitas de nós ainda continuam usando esses termos, pois, desconhecem a problemática e os simbolismos que cada um deles carrega.

A origem do termo “Masculina” é completamente lesbofóbica e misógina. O patriarcado impõe a feminilidade para todas as mulheres e esta foi criada com o objetivo de agradar o olhar masculino. As lésbicas desfem respondem com rebeldia a essa imposição, por isso, sofrem punições sociais por assumirem visivelmente a identidade lésbica.

Lésbicas desfem são constantemente bombardeadas pela ideia de que querem ser homens pelo simples fato de se relacionarem apenas com mulheres e buscarem conforto em seu comportamento e estética. Nesse mesmo pacote podemos citar outros termos preconceituosos como “bofinho”, “Machinha” e o famoso “Joãozinho”. O uso do termo “masculina” é ainda mais problemático, pois causa uma distorção do que realmente significa masculinidade. Uma mulher jamais poderá ser masculina, afinal, esse é um instrumento de poder patriarcal.

Como refletiu a escritora Sheila Jeffreys, no livro “Unpacking Queer Politics: A Lesbian Feminist Perspective [tradução livre: Descompactando a política queer: uma perspectiva feminista lésbica]:

“A masculinidade não pode existir sem a feminilidade. Isolada a masculinidade não tem significado, porque ela não é mais que uma metade de um conjunto de relações de poder. A masculinidade pertence à dominação masculina assim como a feminilidade pertence à subordinação feminina.”

Por causa dessa visão, lésbicas caminhoneiras são vistas frequentemente enquanto figuras masculinas, e uma das consequências dessa questão é a imagem de predadora. Usar banheiro público coletivo se torna um pesadelo, pois mulheres femininas e heterossexuais se sentem inseguras com nossa presença, justamente por terem em mente a representação de que lésbicas são predatórias.

O uso desses termos também contribui para que lésbicas desfem acabem desempenhando papéis heterossexistas dentro das relações, e performam assim um suposto lugar de “macho” em seus afetos. Dentro dessa dinâmica da qual chamamos de Butch & Femme [Desfem & Feminina], as caminhoneiras não são dignas de afeto, de cuidado ou até mesmo de prazer sexual.

Mulheridade não é sinônimo de feminilidade, afinal, a realidade material de uma mulher enquanto pessoa do sexo feminino continuará em curso. Posso gostar de usar roupas largas, raspar os cabelos, não usar maquiagem ou deixar de me depilar e continuar sendo mulher. Jamais nos compare com homens. Não temos poder algum de oprimir outras mulheres e muito menos de desempenhar papéis masculinos. Nossa existência enquanto mulher é completa e merece ser respeitada.

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Anne Santos
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Artista, lesbofeminista e ativista pelos direitos de lésbicas desfeminilizadas natural da cidade de Januária em Minas Gerais. Fundadora do "Desfeminilizei", projeto social que busca trazer ao público visibilidade e letramento sobre lésbicas desfem.

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