Dos cortiços às favelas
O cortiço, termo muito bem registrado no clássico de Aluísio Azevedo, eram casas comunitárias, ambientes considerados por vezes de péssima qualidade e insalubres, aglomeravam pessoas em grandes centros urbanos que foram pioneiros da industrialização. Os cortiços eram ditos e redigidos como um problema de higiene, dando o tom aos higienizadores políticos para limpar segundo eles, a cidade em nome da “saúde pública”.
Hoje, bem sabemos, que o problema da urbanização acelerada de fato tem pouca relação com “saúde pública” e mais com a falta de planejamento estratégico urbano e harmonia das cidades no momento de expansão populacional delas. A falta de planejamento estratégico hoje nos traz o caos e pior sentidas nas favelas brasileiras que entre enchentes, desabamentos de casas e consequentemente mortes vão se distanciando da fórmula mágica da paz urbana
Ao querer se parecer com a Europa a presença de pobres nas áreas mais valorizadas das cidades já não era um bom negócio no século XX. Ao passo que os cortiços não terem sido considerados invasões e ilegais, por outro lado constituíam contradições econômicas, históricas e sociais. Os donos, muitos deles recém escravistas, exploravam os explorados, dentro de um contexto da abolição do trabalho escravo para o trabalho “livre” usando o campo imobiliário como ferramenta.
No que tange às favelas e invasões nos dias atuais se revela que no quesito moradia ainda beiram as margens da lei. E ainda é um debate pouco ou menos debatido, mas que deve estar em pauta. O incentivo maior à segurança jurídica e legal das habitações e seguranças do uso da moradia que é de fato constitucional assegura aos moradores o direito digno a sua própria moradia. Ao passo que pensar na formação de casas com um planejamento mínimo é também importante.
Os políticos da época acreditavam que os cortiços eram focos de problemas e proliferação de doenças, estigmas que hoje mudam de palanque e passam a ser outros nas favelas brasileiras. As favelas lado a lado de bairros nobres em uma relação de interdependência, tanto no que tange ao trabalho quanto de relação dentro da própria cidade já mostra bem simploriamente a importância das favelas para o bem- estar da cidade, faz parte da engrenagem.
Ao passo que conhecer os eventos históricos que levaram a origem das favelas como: o modelo escravista abolido, industrialização, migração de nordestinos para os grandes centros explicam o surgimento e a massificação delas e entender, compreender esse contexto é uma ferramenta essencial para melhorar a própria favela e consequentemente a cidade. Por tanto, como bem disse Edmund Burke “um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la” e claro fracassa-la.
Cria de Paraisópolis, bacharel em Lazer e Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Pesquisador com foco na periferia e sua dialética com o Lazer e Turismo. Teve contato com projetos de impacto social em Paraisópolis e em áreas da Zona Leste.