Estamos prontos para enfrentar a desinformação nas eleições?

 Estamos prontos para enfrentar a desinformação nas eleições?

Crédito: Reprodução Freepik

A disputa pela presidência do Brasil tem sido acompanhada por uma avalanche de fake news nas redes digitais e nos aplicativos de troca de mensagens. Todos os dias, nos deparamos com notícias sobre a constante difusão de textos, áudios e vídeos enganosos e falsos sobre os candidatos, suas campanhas políticas e todo o processo eleitoral. Nada parece escapar à desinformação. Frases e depoimentos dos candidatos são distorcidos e pesquisas de intenção de votos, adulteradas. Sim, a indústria de fake news está operando a todo vapor. 

Agora, enquanto você faz a leitura deste texto, milhares de mentiras relacionadas às eleições circulam velozmente nas redes, e outras tantas já estão prontas para entrar em operação. Iniciam o percurso no WhatsApp ou no Telegram e nos levam para o YouTube, o Facebook, o Twitter e o TikTok. A trajetória pode variar, mas a intensidade de ocupação do ambiente digital é a mesma: a repetição da mentira. Elas trabalham para confundir a população, desmotivar a busca pelo fato e pela realidade, incentivar o ódio e o conflito entre cidadãos com opiniões diferentes e, o mais grave, desmobilizar o diálogo e a ação coletiva. 

No Brasil, a situação é ainda mais preocupante. Estamos entre os maiores frequentadores das redes digitais e dos aplicativos de troca de mensagens, e, talvez por este hábito, temos expressado ódio e desejo de confronto diante de falas e discursos que questionam nossas ideias e crenças – ou seja, acreditamos em fake news para confirmar nossos posicionamentos. Estamos vulneráveis à desinformação, apesar de convivermos intensamente com as mensagens fraudulentas durante, pelo menos, os últimos seis anos. Enfrentamos fake news na vacinação contra a febre amarela, nas eleições presidenciais de 2018, na pandemia da covid-19 e na vacinação contra o coronavírus. Vimos ainda como elas agiram nas eleições presidenciais norte-americanas e, mais recentemente, na guerra da Ucrânia e Rússia. 

Já entendemos que elas falsificam fatos, para influenciar nossas escolhas. E aprendemos que temos meios para checar as informações e alertar os amigos e familiares. Entendemos também que elas misturam realidade e mentira e, geralmente, são muito apelativas, insistindo para que passemos a desinformação adiante. Então, compreendemos que é preciso evitar o compartilhamento. Sabemos ainda que estas mensagens fraudulentas são empregadas por grupos políticos e econômicos para o favorecimento de interesses particulares. Então, nos colocamos sempre atentos às intenções da desinformação! Mas, apesar de todo o nosso cuidado, constatamos que, como produto da tecnologia, as notícias falsas se modificam constantemente e aprimoram suas narrativas enganosas, seus formatos e poder de manipulação. 

Entre os maiores exemplos desta “sofisticação” desinformativa está a produção recente de vídeo falso a partir de cenas do Jornal Nacional, exibido em 15 de agosto deste ano, com a apresentação do resultado de pesquisa sobre intenção de votos, realizada pelo Ipec. No vídeo falso, a fala da jornalista Renata Vasconcellos e a imagem, com o gráfico dos números da pesquisa e as fotos dos candidatos, foram adulterados, invertendo os dois primeiros lugares, com o presidente Jair Bolsonaro à frente da corrida presidencial. O conteúdo é falso, porque a pesquisa mostrou Luiz Inácio Lula da Silva com 44% da intenção de votos e Bolsonaro, com 32%. A intervenção na gravação original da TV Globo foi muito bem-feita, se compararmos com outras produções, e o resultado tem potência para enganar principalmente aqueles que não têm acompanhado de perto os noticiários. Nos deparamos com o seguinte impasse: vimos e escutamos algo que não existe.  

As tentativas para coibir a circulação de fake news também estão se aprimorando no Brasil, aos poucos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alvo de ataques e muita desinformação neste ano, tem feito parcerias com as gigantes digitais, para a identificação e apagamento de fake news, e mantém um canal no WhatsApp para esclarecer notícias falsas sobre o processo eleitoral. Ainda há algumas dúvidas sobre os critérios estabelecidos pelas plataformas para a retirada de vídeos, textos e áudios falsos ou enganosos envolvendo os candidatos à presidência do país e as eleições brasileiras. Mas podemos colaborar com este processo utilizando os recursos criados pelas próprias plataformas para denunciar desinformação e, assim, pressionarmos pela circulação de conteúdo de qualidade nas redes digitais. 

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Jornalista, pesquisadora, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Atuou como repórter e editora, por 20 anos, nos jornais Diário Popular, Diário de S.Paulo e Brasil Econômico. Pesquisadora e palestrante do tema desinformação científica.

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