Tecnologia para o bem
Em assuntos digitais, sou a “Dona Maria da piada”: quando tenho algum problema em meu computador e ligo para a central de apoio de uma das empresas onde trabalho, se o atendente me pedir para abrir uma janela, sou bem capaz de me levantar e… abrir a janela da sala.
Mesmo assim, há décadas convivo rotineiramente no trabalho com milhares de nerds brilhantes, daqueles que nasceram sabendo teclar e se comunicar no complexo dialeto tecnológico. Em tempo: uso a palavra nerd sempre no bom sentido, para designar esses meninos sabidos e competentes, de quem sou fã.
Cada vez mais, estão por cima da carne seca! O mundo profissional valoriza essa moçada, seja pelo que fazem em grandes corporações – digitalizando e acelerando rotinas antes manuais ou processadas em máquinas mastodônticas – seja pelo que criam em startups com valor multiplicado muitas vezes pelo mercado.
Fala-se que no Brasil faltam pelo menos 700 mil profissionais de tecnologia da informação, razão pela qual são muito disputados. Com a prevalência do modelo de trabalho em home-office, amplificada durante a pandemia da Covid, a competição se tornou global: é possível trabalhar a partir de qualquer ponto do país e fornecer serviços para empresas em qualquer lugar do mundo. E recebendo em dólar!
Acredito que investir na formação em tecnologia pode ser uma das formas de reduzir a enorme desigualdade social no Brasil. Por isso, num sábado de junho, experimentei um daqueles momentos que fazem a vida valer a pena: o lançamento, na Favela de Paraisópolis, em São Paulo, do G10Tech – projeto que visa capacitar jovens em condições de vulnerabilidade para se integrarem no mercado de tecnologia.
Minha satisfação foi ainda maior pelo fato de ser esse o coroamento de uma história na qual pude ter uma pequena, mas gratificante, participação. Tudo começou há alguns anos, quando conheci o jovem casal (Igor Couto e Aline Froes) criador do Vai na Web (www.vainaweb.com.br), que promove a capacitação digital de jovens, inicialmente atuando em favelas cariocas (hoje em diversos pontos do país) em linguagens tecnológicas. Encantei-me com o projeto e com seus incríveis criadores.
Outra história: no começo da pandemia, para viabilizar a ajuda das empresas onde trabalho (incluindo o Grupo UOL/ PagSeguro) a comunidades vulneráveis, através de ONGs, conheci o G10 Favelas, liderada por Gílson Rodrigues, de quem me tornei fã de carteirinha.
Foi só juntar as três pontas: o Grupo UOL/ PagSeguro (que precisa de profissionais qualificados em tecnologia), os líderes do Vai na Web e os do G10 Favelas. Pronto, nasceu um projeto que já é um sucesso. Gestores do PagSeguro PagBank desenvolveram, junto com o Vai na Web, um programa pedagógico sob medida para as suas necessidades. O evento que mencionei antes foi o pontapé inicial do polo tecnológico ao qual certamente se juntarão muitas outras empresas.
São muitos os jovens Brasil afora com criatividade e vontade de trabalhar. Ouvir os depoimentos dos meninos e meninas da turma que inicia o projeto é perceber como aprender tecnologia pode empoderar os profissionais das favelas para atuar no mundo, gerar oportunidades para os menos favorecidos e excluídos, e ajudar a reduzir as desigualdades sociais. No mercado da tecnologia, essa desigualdade se acentua principalmente em se tratando de mulheres e negros. É muito bom ver essa iniciativa crescer e dar frutos!
É mãe, avó e executiva do Grupo Folha e do Grupo UOL.