Os significados das ruas de Paraisópolis
Por Gideão Idelfonso
Os anos se passam na favela, entre becos e vielas, caminhos, atalhos mais simples e fáceis, rápidos, outros mais complicados e tortuosos. Uma vez me perguntei sobre o significado do nome “Paraisópolis”, e por qual motivo foi dado para a região. A palavra “polis” em grego significa cidade, por isso o termo “cidade do paraíso” como já ouvimos falar na boca do povo.
O motivo para o nome dado para a região, segundo fontes de moradores locais, foi pelo fato de um empreendimento que seria construído na região após o loteamento, entendo a partir das conversas que seria um condomínio com intenção de ser como Alphaville e Granja Viana, por exemplo. A quem diga existir um folder com uma ilustração da portaria do condomínio que parecia a entrada de um paraíso com um estilo todo colonial e com o nome “Paraisópolis” acima.
Outro aspecto que sempre me interessou, gerando curiosidade para busca de seus significados, são os nomes das ruas da favela, ruas como Herbert Spencer, Ernest Renan, Rudolf Lotze ou Pasquale Gallupi somam-se aos seus apelidos, mas que de fato possuem nomes e expressam ao menos abstratamente significados que podem ou não se somar às histórias da comunidade.
A rua Herbert Spencer, conhecida como a “rua da feira”, tem o nome de um filósofo e sociólogo inglês, amante da ciência, repudiava conhecimentos tradicionais, defensor assíduo do liberalismo clássico, era dele a frase célebre que cita a “liberdade de cada um termina onde começa a do outro” o que é difícil nas favelas, já que a proximidade das casas e das pessoas invariavelmente em algum momento afeta a liberdade do outro. Spencer, acreditava na racionalidade sendo um instrumento dentro de uma sociedade composta de indivíduos que mandam no jogo e competem entre si para sobreviver como uma necessidade humana, aquela ideia os “mais aptos que sobrevivam” é defendida por esse personagem.
Um outro filósofo e médico nascido na Alemanha foi Rudolf Lotze, seus trabalhos pioneiros na área de psicologia científica resultaram em trabalhos fundamentais na área, tendo por isso sido considerado um dos pais fundadores da psicologia, para ele o homem é um microcosmo. O pensamento, uma atividade de relacionamento e os problemas encontrados no metafísico ou na lógica devem ser respondidas pelas lentes racionais e perceptivas dos seres humanos, ou seja qualquer doutrina filosófica que descarta os resultados da ciência é indispensável.
Segundo Lotze, seu objetivo era refutar tais tentativas e fazer as pessoas se sentirem em casa no mundo novamente. O progresso social para ele é dado como um crescimento quantitativo, o ideal seria alcançar uma harmonia social completa dentro das culturas. Lotze defendia o amor à pátria ao invés do amor ao Estado e suas instituições, desconfiava da representação parlamentar e da política partidária e que de fato nos dias atuais pode ser considerado algo perigoso.
As ruas mais do que seus significados remontam a referências históricas, nomes que contam acontecimentos, nossa construção como indivíduo. É bem verdade que algumas ruas possuem nomes controversos e a maioria nomes de homens e são questões que podem ainda ser discutidas para um consenso social, questionamentos se realmente alguns indivíduos devem ser homenageados ou sua memória perpetuada. De fato as ruas dizem mais sobre nós do que imaginamos.
Gideão Idelfonso
Cria de Paraisópolis, bacharel em Lazer e Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Pesquisador com foco na periferia e sua dialética com o Lazer e Turismo. Teve contato com projetos de impacto social em Paraisópolis e em áreas da Zona Leste.