Mês de abril foi marcado pela Paixão de Cristo no Morro Azul
Por Charlie Gomes
A data do feriado religioso cristão nesse ano foi celebrada durante a semana, numa sexta-feira (17/04). E o Bando Cultural Favelados (BCF), grupo de teatro da Rocinha, composto por moradores da localidade e outras regiões da cidade, se apresentaram na favela do Morro Azul. Algo inédito e motivo de festa, pois é a primeira vez que o grupo se apresenta nessa região e o local ganha uma peça teatral que nunca houve antes. Os artistas periféricos junto dos moradores se reuniram em frente à sede da Associação de Moradores do Bairro Azul (AMBA), uma parceria para realização do ato cênico. A peça seguiu um trajeto até o final do morro, dividindo espaço de rua com as crianças, carros e moradores que transitavam, acompanhando da porta e janelas.
“Nesse dia, sexta-feira da paixão, o mundo inteiro faz esse espetáculo de um homem que é massacrado, acabam com a vida dele e as pessoas batem palma de uma forma muito gloriosa. Você ver o brilho de alegria, não pelo apanhar, mas nesse martírio.” Conta Richard Castelo Branco, fundador do BCF.
O palco são as lajes dos próprios moradores que emprestaram sua moradia por alguns minutos, abrindo a porta da casa e confiando sua intimidade, fazer uma apresentação dessas só mostra o tamanho da desigualdade social e um retrato desse Brasil escondido. Ao captar imagens durante tal encenação as crianças ficavam admiradas com o que viam diante dos seus olhos e perguntava se era verdade, o que estava acontecendo e pediam até para captar foto também. Deixando claro que nunca havia assistido um teatro e não estava acostumada com alguém fazendo flash na sua quebrada.
O Morro Azul é uma favela localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, bairro do Flamengo e a estimativa da população é de 2.500 habitantes.
A revelação de um ator mirim que veio do Nordeste, estado do Piauí e ingressou no Bando Cultural Favelados (BCF). Luiz Xavier é um pré-adolescente de 12 anos que participou da peça teatral, cantando trechos de cenas. Segundo sua mãe, o filho gosta muito de estar entre pessoas. Mas ainda não pode tirar o registro profissional apenas com 16 anos de idade. Então quando aparece trabalho de atuação mirim, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (SATED), convida o mesmo.
“Desde criança eu sempre fui muito tagarela, então eu gostava de cantar e muito de assistir filme, olhava e falava: Olha mãe, eu quero ser igual esse cara. Um dos meus filmes favoritos é o Máskara e olhava para o Jim Carrey que é o ator que faz o Máskara e sempre me inspirei nele, sempre gostei do filme que ele faz. Daí pedi para minha mãe, quero ser ator. Ela procurou teste para eu fazer, a gente morava lá no Piauí. E ela finalmente conseguiu um teste do (DPA) Detetives do Prédio Azul, fiz o teste e passei. Viajei para o Rio de Janeiro para poder continuar com essa minha carreira e desde então eu só ando subindo e crescendo, sou muito grato, obrigado meu Deus!” Conta o ator mirim, Luiz Xavier.
Charlie Gomes
Cria da Favela da Rocinha, é locutor e estudante de jornalismo. Atua em diversos projetos sociais na comunidade e é proprietário do jornal comunitário @rocinhacomunic.