SOLIDARIEDADE E EMPATIA

 SOLIDARIEDADE E EMPATIA

Voltei há pouco de um mercado (de conhecida rede) perto de casa, do tipo que só tem autoatendimento: o próprio cliente passa os códigos de barra dos produtos diante do visor da máquina e depois faz o pagamento de forma eletrônica. Havia apenas uma gerente acompanhando as compras para o caso de algum problema. Com cara de poucas amigas, essa gerente se irritava quando eu fazia alguma barbeiragem na máquina, e me corrigia com impaciência. Lembrei que precisava de uma garrafa de whisky para presente, e perguntei-lhe se o mercado dispunha do produto. Contrariada, levou-me até o armário (fechado aos clientes), e quando pedi recomendação de alguma marca em especial (não conheço, só tomo cerveja), fuzilou-me com os olhos acusadores e respondeu, ríspida: “Nunca bebi na vida, nem vou beber!” Deixei barato, mas minha vontade era retrucar: “Pois devia beber, pra ver se melhora esse humor…”

Ainda bem que esse caso é exceção: na grande maioria das vezes as pessoas são solidárias e empáticas (ao menos é essa minha experiência pessoal).

Recentemente uma grande amiga (que considero irmã) caiu num desses golpes online, quando a pessoa – obviamente sem querer – permite a um hacker cafajeste invadir sua conta bancária. Como resultado, não restou um centavo na conta… Ela ficou mal, claro, culpando-se por ter sido ingênua. Mas, ao mesmo tempo, o episódio rendeu a solidariedade de todos que a cercam – como era esperado. Além disso, relatou minha amiga, ela se emocionou às lágrimas quando foi a uma loja e acabou contando ao vendedor que a atendia a razão de estar (visivelmente) abalada. O moço – um estranho, afinal – imediatamente passou a confortá-la, argumentando, de forma doce, que não valia a pena sofrer, que dinheiro se consegue novamente, e que o mal-estar prejudica ainda mais a vítima. As palavras do vendedor fizeram muito bem à minha amiga!

Lembrei-me também de uma situação pela qual passei, quando uma pessoa que trabalhava comigo há tempos, e a quem ajudei bastante, me enganou, do modo mais abjeto possível. Eu me senti uma idiota completa, porque tudo acontecia bem debaixo do meu nariz. Minha reação foi: na minha idade, como posso não enxergar os fatos, como posso ser tão ingênua?

Nessas horas, a rede de apoio é fundamental. Parentes e amigos se solidarizaram e me ajudaram muito. Meus filhos, em especial, foram incríveis, amparando-me com palavras e ações, numa inversão dos cuidados que eu sempre tive com eles.

Mas realmente diferenciado foi o apoio que recebi de duas competentes executivas do meu time – mais que companheiras de trabalho, amigas inteligentes e divertidas – que acompanharam de perto o episódio e me confortaram da maneira mais gentil possível. Uma delas me escreveu mensagem linda, deixando claro ser uma “bronca de filha pra mãe”. Reproduzo aqui um pequeno trecho: “Nunca diga que você foi idiota e por isso mereceu, de alguma forma, algo ruim. Você foi vítima de alguém que cometeu um crime, de alguém que nunca vai evoluir na vida”. (…) “Sim, tudo é um aprendizado. Mas não se puna! Você é o lado bom da força, o lado ético, o lado correto. Você foi vítima e, infelizmente, todos estamos sujeitos a isso. Especialmente quem é bom. Não tem nada de idiota ou otária. Vou tomar a liberdade de lhe dar bronca se você não for legal com você! Se fosse eu no seu lugar, provavelmente também estaria me punindo, mas você, tenho certeza, me diria para não fazer isso. Vamos juntas e sempre olhando o lado certo, o lado bom!”

Por existirem pessoas assim, com solidariedade e empatia, posso concluir: a vida vale a pena!

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É mãe, avó e executiva do Grupo Folha e do Grupo UOL.

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