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A morte do Papa Francisco mobilizou a atenção global. Embora não tenha mais a antiga hegemonia no Ocidente – no Brasil, por exemplo, 95% da população eram católicos nos anos 40, versus 50% em 2024 –, a religião católica ainda exerce grande influência sobre as pessoas em todo o mundo. E as manifestações de um Papa têm impactos sociais importantes.

Francisco sempre demonstrou, concretamente, grande preocupação com os mais pobres, com a igualdade, com o acolhimento e com uma visão humanística em questões de comportamento (mesmo que os avanços tenham sido, aparentemente, limitados pelas pressões mais conservadoras).

Minha admiração pelo Papa Francisco refere-se a essa postura humanista – e são notórias as dificuldades que enfrentou para que alguns progressos se tornassem possíveis. Mas o que eu realmente apreciava nele era seu bom humor, um sinal de inteligência e empatia. Em diversos momentos fica clara essa forma simpática de lidar com os acontecimentos do mundo, mesmo diante das adversidades.

Numa entrevista em vídeo que voltou a circular após seu falecimento, Francisco mostra essa filosofia de vida: “O senso de humor é um certificado de sanidade. Há mais de 40 anos rezo todos os dias a oração para pedir senso de humor, de São Tomas Moro, um grande homem. […] Nela pedimos ao Senhor a capacidade de sorrir, de rir, de ver o lado ridículo das coisas, e o lado não ridículo, para saber ver que a vida tem algo de sorriso sempre. A oração começa linda: ‘Dá-me, Senhor, uma boa digestão, e algo para digerir’. Já começa com senso de humor, e eu gosto disso!

O senso de humor humaniza. Quem não tem senso de humor não tem graça. São chatas consigo mesmas. Uma vez aconteceu comigo, em meu trabalho sacerdotal, de aconselhar uma pessoa: ‘Olhe-se no espelho e ria de si mesmo’. Foi difícil para ela, muito difícil. Porque lhe falta essa capacidade de humor. Bem, essas coisas que digo não são muito dogmáticas. É um pouco da sabedoria de vida que me ensinaram, e eu tento ajudar os outros com isso.”

Perfeito! Sempre dei graças à sorte por crescer numa casa com mãe tão bem-humorada (e com enorme paciência). Esse clima faz uma diferença enorme para a família. Faz a vida ter a dimensão que deve ter. Quando alguém achava que algo não havia saído bem, ela relativizava: “Não morreu ninguém!”

Esse espírito atrai a saúde mental, espanta a agressividade, estimula a empatia, planta o amor pelo bom humor, a sabedoria de rir do ridículo – da gente mesma, dos outros e do conjunto. Em tempo: meu pai também era um homem bem-humorado, em outro estilo – os causos que contava eram impagáveis. Mas na convivência do dia a dia, o que dava a “liga” geral na casa vinha de nossa mãe.

Nós, os irmãos, crescemos cultivando o senso de humor, e até hoje convivemos relembrando o que nossos pais nos ensinaram sobre o que é importante na vida – e o que é supérfluo, desimportante mesmo. O Papa Francisco tem razão: senso de humor é fundamental. Que o novo Papa também tenha senso de humor!

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É mãe, avó e executiva do Grupo Folha e do Grupo UOL.