Emojis
Já que fomos abduzidos pela internet, melhor usá-la bem. De minha parte, eu lhe sou muito grata – apesar de me fazer trabalhar ainda mais, o tempo todo. É muito mais fácil agora: a qualquer hora, de qualquer lugar, despacho assuntos por e-mail ou WhastApp. Antes, o tempo despendido para a solução de cada tema era incomparavelmente maior. Reuniões só ocorriam ao vivo, mensagens em papel demoravam dias para ir e vir entre as equipes de trabalho. Pensando agora, é difícil entender como produzíamos relatórios, teses e outros documentos sem computador, precisando redatilografar cada página em caso de erro. Com os recursos digitais, tornamo-nos mais produtivos, sem dúvida!
Para muitos, essa nossa dependência da web é uma prisão. De fato, a sedução das redes sociais pode ser vista como uma sereia (ou sereio) que arrasta suas vítimas para o fundo do viciante mar digital. Sem dúvida é um risco, especialmente para os mais jovens. Para mim é como um jogo: assim como crianças e jovens querem vencer etapas em games virtuais, sinto também enorme prazer em me livrar de quantidades industriais de problemas e questionamentos profissionais, bastando pensar rápido e teclar as respostas. A aposta é comigo mesma: tento ser cada vez mais ágil, para “passar de fase”.
Para ajudar, dispomos dos práticos emojis – aquelas pequenas figuras com carinhas de riso, gargalhada, tristeza, dúvida, surpresa etc. – além de outras imagens que facilitam nossas vidas: taças brindando para comemorar, mãozinha indicando positivo, mãos espalmadas indicando parceria etc. Mensagem que antes exigia uma frase ou um parágrafo, agora pode ser simplesmente substituída por um clique em emoji do estoque disponível nos aplicativos.
Fico imaginando se um dia voltaremos a uma escrita só de desenhos, como os primeiros registros humanos: as pinturas rupestres (de 40 mil anos atrás), que não eram exatamente escrita (no sentido que temos hoje); ou, há vários milênios, os desenhos cuneiformes na Mesopotâmia e os hieróglifos no Egito, gravados em pedra, argila, madeira, túmulos, templos etc. A China também tem história, com a criação do sistema ideográfico (milhares de desenhos, cada um significando uma coisa). As letras e o alfabeto como conhecemos hoje, símbolos que representam sons específicos, foram uma bênção! Sem letras e alfabeto, imagine-se quantos desenhos teríamos de aprender e decorar para podermos nos comunicar ou escrever um livro…
Voltando aos emojis: a disposição deles em meu aplicativo de WhatsApp ajuda-me até na autoanálise. Explico: para facilitar nossa vida, o WhatsApp dispõe, logo no início da sequência, os emojis mais usados (por cada pessoa) no período específico. Olhando a minha sequência, aproveito para refletir sobre o meu momento.
Com enorme frequência, o campeão dos meus emojis é uma carinha gargalhando. Ótimo! Significa que o humor, que valorizo muito, está presente em meu dia a dia. De fato, apesar de tantas atribulações, precisamos sempre buscar uma vida mais leve. Considero que rir – inclusive de minhas próprias e rotineiras trapalhadas – é uma necessidade.
Outro campeão no meu ranking é a carinha mandando beijo com a boca de lado, e ainda o coração pulsando. Melosidade excessiva talvez, mas que mal há em exagerar um pouco no afeto?
Sei que os jovens consideram démodé – ou crinje, na linguagem deles – o uso de emojis. Pois eles não sabem como é útil e boa essa invencionice moderna!
É mãe, avó e executiva do Grupo Folha e do Grupo UOL.